O templo histórico da Ordem Terceira do Carmo, na Praça XV, Centro Histórico do Rio, encontra-se em estado lastimável de conservação, com graves riscos de desabamento, infiltrações, incêndio, infestação de cupins e desprendimentos da sua fachada externa, conforme denúncia feita pelo DIÁRIO em 2022 e novamente no início deste mês.

Fechado desde 2019, a capela em estilo barroco foi vistoriada em diversas ocasiões por técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que ficaram horrorizados e alarmados com as condições de conservação da edificação, conforme repercutiu nossa reportagem, no dia 7 de fevereiro deste ano. A igreja não pertence à Arquidiocese do Rio, mas sim à Ordem, que tem administração autônoma. O fato chamou a atenção da Deputada Federal Laura Carneiro (PSD-RJ).

Sabedora da situação calamitosa e urgente do bem tombado, a deputada federal decidiu acionar o Ministério da Cultura, por meio do Secretário Executivo do Ministério, Márcio Tavares, para apresentar o cenário caótico do templo quase tricentenário, e que tem tanto significado para o Rio. E pior: o Iphan Federal havia concedido, apesar da urgência constatada pelos seus próprios fiscais, prazo de 9 anos aos donos da igreja para que as obras fossem realizadas. Após os fatos trazidos à tona pelo DIÁRIO e mobilização de setores da sociedade, o prazo teria sido reduzido para 5 anos, o que ainda assim pode colocar o templo em risco.

Laura Carneiro disse, em vídeo publicado em suas redes sociais ao lado de Tavares, que teme que a tragédia ocorrida em Salvador possa se repetir na capital fluminense no templo da Ordem do Carmo, que fica na Primeiro de Março colado à Antiga Catedral do Rio. Ela levou os laudos fotográficos e a nota técnica da perita do Iphan à atenção do Secretário, que é doutor em Arte pela Universidade de Brasília e mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, além de curador de arte e gestor cultural.

Carneiro demonstrou que as observações nos documentos oficiais mostram cenário gravíssimo, frisando que o risco deixou de ser inerente à própria edificação para uma possibilidade de atingir a “igreja vizinha”. Isso, segundo Laura Carneiro, cria um contexto de ação urgente e imediata por parte das autoridades competentes, já que, em caso de incêndio, a tragédia da perda memorial e patrimonial carioca incidiria sobre dois imóveis religiosos altamente significativos e valorosos.

As constatações da fiscal nos laudos que Laura trouxe à atenção de Tavares mostram cenário “aterrorizante”, com apontamentos de “forros, alvenarias e peças do acervo se despedaçam aos poucos diante dos nossos olhos“. No documento, a técnica do Iphan ressaltou que nenhuma providência foi tomada para conter a degradação e perda dos materiais originais, o que tornou o interior do imóvel religioso “uma imagem aterrorizante de destruição“.

Para evitar que essa degradação avance ainda mais, a deputada conversou com o secretário Executivo do Ministério da Cultura, que disse ter informado pessoalmente o presidente do Iphan, Leandro Antonio Grass Peixoto, sobre a urgência requerida no caso, para que a Igreja da Ordem do Carmo não venha a perecer. Tavares demonstrou que o caso merece atenção:

“Agora entendemos melhor a situação da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, que é um grande patrimônio de arte colonial, da religião católica, da cidade do Rio de Janeiro e do Brasil; bem tombado pelo Iphan em 1938. Então, a partir da conversa com o presidente Leandro, vamos retomar o processo, fazer uma nova fiscalização e verificar urgentemente quais medidas devem ser tomadas para o restauro, comunicando os proprietários da edificação. E, assim garantir que esse patrimônio importante tenha o endereçamento correto de projetos de restauro, de manutenção, recuperação de rede elétrica e das obras de arte; de toda a edificação, para que a Igreja seja entregue restaurada para toda a comunidade do Rio de Janeiro”, disse sobre a igreja da Ordem do Carmo o secretário Márcio Tavares durante a audiência com a deputada federal, em postagem que foi ao ar na rede social de ambos.

Tavares é considerado um dos maiores nomes da Cultura Brasileira no momento, e segundo especialistas sua ajuda pode vir a ser vital na empreitada de salvar esta que é uma das mais importantes igrejas barrocas do país, mesmo tendo já sofrido com muitos furtos de arte sacra, além dos anos de abandono pelos seus proprietários.

As ponderações do secretário Márcio Tavares na audiência com Laura Carneiro contemplam as observações realizadas no laudo da fiscal Márcia Lopes quanto à necessidade de cuidados imediatos com o acervo móvel da igreja, que está jogado em salas no segundo pavimento, reforçando a urgência de visita de uma equipe de bens móveis do Iphan ao local. Segundo informações de dentro do Iphan, já teriam desaparecido mais de 500 obras do acervo tombado da igreja, entre pratas, quadros e móveis.

Projetada por Francisco Xavier Vaz de Carvalho com riscos de Manoel Joaquim Côrte Real, a Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo foi construída pelo Mestre Manuel Alves Setúbal, com talhas do Mestre Valentim, em estilo rococó. Segundo o arquiteto Lucio Costa, a portada de lioz da sua primorosa cantaria teria influenciado o estilo do Mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.