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Próxima a desabar? Igreja do Carmo, de 1755, é “imagem aterrorizante de destruição”, segundo IPHAN

Publicado em: 07-02-2025

O desabamento, com vítimas, da “Igreja de Ouro” da Bahia chamou atenção de todos para o que vem ocorrendo também com obras de arte que fazem parte do patrimônio cultural carioca. Um tesouro da memória do Rio que sofre com o descaso e o abandono há muitos anos – já foi objeto de denúncia aqui no DIÁRIO – é a Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, do Mestre Valentim, na Praça XV, de propriedade da latifundiária Ordem Terceira do Carmo, uma organização religiosa autônoma em relação à Arquidiocese do Rio. Se em 2022 sofria com risco de incêndio, estava tomada por cupins e se encontrava em estado “péssimo”, segundo laudo do órgão federal, hoje a situação é de quase ruína. Mesmo assim, após o ativo lobby do deputado federal Reimont Luiz Antônio Santa Bárbara (PT-RJ) junto à Presidência do Iphan em Brasília, a ordem – famosa pelo contumaz desaparecimento de objetos de arte do seu acervo tombado – ganhou de presente 9 anos para realizar as obras necessárias. As fotos, porém, demonstram que o bem pode não resistir.

Laudo de 2022 já dizia que “As fissuras que ‘cortam’ a igreja num plano vertical paralelo à fachada passando no alinhamento do primeiro módulo da galeria lateral / tribuna deverão ter suas causas investigadas. Este mesmo plano de fissuração também atinge a igreja vizinha“. Se a opinião técnica da antiga fiscal Catherine Gallois trazia um cenário de caos, agora um novo laudo público, constante do processo SEI 01500.004690/2019-16, gerou uma Nota Técnica após vistoria realizada no local pela fiscalização do Iphan, agora a cargo da fiscal Márcia Lopes. As vistorias, realizadas nos dias 26 e 27/03/2023 constataram a “visível piora” do estado do imóvel fechado desde 2019 e sua “degradação mais avançada”, em comparação com a visita de 2022, que gerou a última reportagem. Segundo a fiscal que esteve lá, “os forros, alvenarias e peças do acervo se despedaçam aos poucos diante dos nossos olhos“. Ela destaca que não foi realizada nenhuma ação para evitar a perda dos materiais originais. Ela continua com sua narrativa, que é de filme de terror: explica que o imóvel é “uma imagem aterrorizante de destruição“. Cita também o alagamento dos degraus, que sofreram lesões graves, por conta das chuvas que descem pelas alvenarias e já destruíram o forro e madeira, esquadrias e as pinturas murais. Cita o “estado bastante precário”da cobertura, calhas e dutos de águas pluviais, causadores do arruinamento da igreja, que é vizinha à Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, que foi restaurada e é de propriedade da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

O lindo templo barroco virou também depósito de lixo e entulho, demonstrando claramente o nível de cuidado que os apadrinhados do deputado petista – que conseguiram nos anos 90 ver o sumiço a mais de 500 peças de arte sacra, que incluem quadros de quase 4 metros de altura retratando a vida de Jesus Cristo, em caso que foi investigado na época pela Delegacia Fazendária e terminou em pizza, mesmo sem sinais de arrombamento no cofre forte, e não havendo explicação para como se retiram tantos objetos de um a igreja em plena Praça XV sem uma frota de caminhões de mudança. As instalações elétricas do templo seguem precárias, e a cúpula recebe infiltração de água da chuva. Um laudo anterior chega a colocar em dúvida se os reforços estruturais que foram feitos no telhado são seguros. Recentemente, o famoso historiador Paulo Rezzutti postou em seu instagram sobre sua preocupação com o templo, um dos mais importantes do país.

No laudo do ano passado, a fiscal demonstra também grande preocupação com o acervo da igreja, que está jogado em salas no segundo pavimento, afirmando a necessidade da equipe de bens móveis do Iphan visitar o local que é assunto de um famoso trabalho do pesquisador Raphael Hallack sobre o desaparecimento de arte Sacra, um trabalho tão público que é acessível por qualquer um no próprio site do IPHAN (link aqui). A linda construção foi projetada por Francisco Xavier Vaz de Carvalho com riscos de Manoel Joaquim Côrte Real, e construída pelo Mestre Manuel Alves Setúbal, com talhas do Mestre Valentim, em estilo rococó. A portada de lioz da sua primorosa cantaria teria influenciado, segundo Lucio Costa, o estilo do Mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

Em 2022, um ofício do Iphan foi encaminhado à Defesa Civil do RJ, ao Corpo de Bombeiros e à própria Ordem Terceira do Carmo, proprietária do imóvel. O DIÁRIO DO RIO teve acesso ao alarmante ofício, que cita as vistorias realizadas no histórico templo. O documento federal foi produzido na época com o objetivo de solicitar imediatas vistorias dos órgãos competentes na esfera estadual e municipal. Não se tem notícia da ação de ninguém; os fiscais do Iphan seguem tentando sensibilizar alguém para evitar a tragédia anunciada.

A Ordem, além de proprietária de um imenso edifício na Rua do Riachuelo – o Edifício Carmelo – também é dona do Hospital do Carmo, imensa e lindíssima construção na Lapa que, segundo o jornalista Ancelmo Gois, se encontra à venda. A entidade, que já foi uma das mais conceituadas e reputadas irmandades religiosas do Rio de Janeiro, sofre com o descaso e má administração desde os anos 1990, época que coincide com o seguido sumiço de obras de arte tombadas de seu acervo. Possui também diversos imóveis na rua do Ouvidor e na rua do Carmo, assim como na rua Primeiro de Março, muitos igualmente tombados e em péssimo estado de conservação. Recentemente, forçada por uma campanha de toda a imprensa do país, acabou por restaurar o Oratório da Rua do Carmo, 38, o único exemplar de oratório de rua que ainda existe na cidade, após 26 anos de descaso e abandono.

A fachada da igreja está em “péssimo estado de conservação com esfoliação das cantarias”, que, segundo a fiscal, “se desprendem”. E conclama ação imediata para estancar o avanço da degradação, que piorou nos últimos 6 anos. Para a técnica, “não é mais possível adiar ações urgentes, tendo em vista o avançado estado de deterioração do bem tombado“. Ela cita a real possibilidade de perda do que qualificou como “exemplar arquitetônico de valor histórico e artístico inestimável”, deixando bem claro que “o bem tombado não pode mais esperar“. Mas, segundo a Presidência do Iphan em Brasília, talvez um pedido de um deputado da base governista realize o milagre que nem mesmo a intercessão de Nossa Senhora do Carmo conseguiu até agora.

O relatório fotográfico está disponível, na íntegra, neste link.

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