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William Bittar: As antigas lojas de departamentos no Rio de Janeiro

Publicado em: 02-09-2023

Transparentes
Feito bijuterias
Pelas vitrines
Da Sloper da alma
Blanc e Boscoli

Herdeiras diretas da Revolução Industrial e dos primórdios da sociedade de consumo, a segunda metade dos oitocentos assistiu ao surgimento de grandes estabelecimentos comerciais que ofereciam uma miríade de produtos distribuídos por seções afins. As cidades europeias e principalmente as norte-americanas testemunhavam o nascimento das lojas de departamentos.

Acredita-se que surgiu em Paris, em 1852, o primeiro magazine, o Bom Marché, durante grandes reformas urbanas, entre elas o plano Haussman. A valorização dos espaços públicos passava a atrair uma população de maior poder aquisitivo que trocava as ruas por edifícios com interiores requintados, como a Galeries Lafayette, aberta no final do século XIX.

O Rio de Janeiro, transformado no Distrito Federal pela República, objeto de reformas urbanas sob a gestão de Pereira Passos, também recebeu suas lojas de departamentos, entre elas a Sloper, fundada na rua do Ouvidor, em 1899, a Mesbla, em 1912, e Sears, em 1949, abordadas em matérias publicadas no Diário do Rio em diferentes momentos, assinadas por Estefane Magalhães, Felipe Lucena e Quintino Freire.

Estas grandes lojas, inicialmente, eram especializadas na comercialização de importados. Após a Segunda Grande Guerra, com a nacionalização parcial de seus capitais, abriram os balcões para uma maior diversidade de produtos, incluindo aqueles de origem brasileira.

A Mesbla nasceu no Rio, sucedendo a uma empresa francesa chamada Mestre & Blatgé S.A., que desde 1912 importava máquinas, equipamentos e até automóveis. Em 1924 foi nacionalizada, mantendo o nome original até 1939, quando tornou-se Mesbla, agregando a representação de aviões Douglas no Brasil.

Durante sua existência por quase um século, até seu fechamento em 1999 e reabertura on line em 2022, a loja se popularizou pela diversidade de produtos oferecidos, de toda natureza, criando o bordão que vendia tudo para os vivos, menos esquifes, destinados aos mortos. Em seus pequenos balcões, atraentes vitrines e amplos espaços de exposição era possível encontrar agulhas e materiais de costura e aviamento, passando por brinquedos, vestuário, livros, discos, aparelhos elétricos, até barcos e automóveis.

Na cidade do Rio, filiais se distribuíram por alguns bairros da região central à Zona Norte. No Centro, à rua do Passeio, funcionava em elegante edifício art-déco projetado pelo francês Henri Sajous, em 1934. Sua torre com o famoso relógio em destaque, ainda marca a paisagem junto ao Passeio Público e foi reproduzida em miniatura na Ilha de Paquetá, assinalando a sede recreativa da empresa. Internamente, além dos pavimentos destinados à exposição e venda, com escadas rolantes e planejada iluminação, contava com um elegante restaurante panorâmico, no 11º pavimento, inaugurado em 1955, com cardápio bilíngue requintado, em francês e português, endereço constante para almoço de negócios ou reuniões políticas, visto que o Senado Federal funcionava no Palácio Monroe, a poucos metros dali.  Havia também um teatro, que recebeu espetáculos marcantes para a cidade, com nomes consagrados na dramaturgia nacional e internacional, uma sala adaptada para um pequeno auditório e um cinema com sessões matinais. Uma fusão comercial e lazer que raramente se viu no cenário de outras cidades.

Outras filiais foram construídas no Méier, Tijuca e em outras cidades e capitais do país.

 Restaurante Mesbla Passeio Bilhete Postal

              

                        

As lojas Sears, Roebuck and Company, empresa americana de lojas de departamentos sediada em Chicago, já iniciaram suas atividades dessa forma, considerando sua chegada a São Paulo em 1949, enquanto as outras, gradativamente adaptavam seus estoques. Era considerada a primeira rede americana que vendia tudo, eletrodomésticos, móveis, roupa de cama e mesa, utensílios em geral, roupas, perfumaria, porém sem atingir a abrangência da concorrente Mesbla. No Rio de Janeiro, em 1949, inaugurou sua filial em um edifício moderno, de oito pavimentos, provido de escadas rolantes, consideradas por alguns como as primeiras da cidade. Foi projetado para esta finalidade, na Praia de Botafogo, usufruindo a vista do Pão de Açúcar na enseada como atração irresistível, também utilizada pelo Botafogo Praia Shopping, que ocupou o endereço, em 1999. Alguns anos depois inaugurou outra loja num conjunto que alguns consideram o primeiro shopping center da América Latina, no Méier, bem próxima à Mesbla e à Sloper, no mesmo bairro.

Edifício Mesbla Passeio                       
Capa do Cardápio

A Casa Sloper foi fundada no final do século XIX pelo inglês Henry Sloper como uma pequena loja na mais famosa via do Rio Belle Époque, centro da moda e diversão, a rua do Ouvidor, onde permaneceu por algumas décadas até chegar à vizinha Rua Uruguaiana. Ali se instalou em um edifício moderno, fachada revestida em granito e belas vitrines apresentando a variedade de produtos como joias e bijuterias, cama e mesa, roupas femininas, maquiagem, decoração e alguns brinquedos. Ainda que contasse com estoque variado para atender homens, mulheres e crianças, a loja se consagrou como espaço predominante feminino, com balconistas elegantes em seus uniformes, gravatas e penteados, atenciosas, à feição daquelas do cinema americano. Talvez uma versão popular da famosa Tiffany, frequentada por Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo, valorizando os artigos ali adquiridos, colocados em atraentes embalagens.

O ambiente sofisticado e suas atendentes ingressaram no imaginário coletivo e não raramente homens desacompanhados percorriam seus salões à procura de um presente real ou fictício, solicitando sugestões, desfrutando daquele espaço lúdico, impregnado de desejos ocultos e pulsantes sensualidades reprimidas.

Na cidade do Rio, foram abertas filiais no Méier e Tijuca, na Zona Norte e em Copacabana, todas com as mesmas características. Nestas, além da clientela tradicional, estudantes ginasianos eram vistos passeando nos corredores, simplesmente para sentir o perfume delicado no ar, admirar platonicamente aquelas belas balconistas, com suas gravatas e uniformes, que se mantinham atenciosas mesmo percebendo que não haveria alguma compra, mas que possibilitava uma aproximação, mesmo com o balcão envidraçado definindo limites, onde reluziam brincos, cordões, pulseiras e outras bijuterias.

No entanto, com o advento dos shopping centers no início da década de 1960, as então moderníssimas lojas de departamentos tornaram-se rapidamente obsoletas. Afinal, os novos templos de consumo efetivamente ofereciam tudo, envolvidos em uma propaganda frenética e um projeto arquitetônico idealizado para atrair, encantar e atingir seu principal objetivo: Vender!

A diversidade de vitrines planejadas reluzindo nos malls contemporâneos, onde o produto se transforma em protagonista, relegaram a um plano secundário aquele atendimento de qualidade das balconistas. Elas demonstravam efetivamente interesse nas dúvidas e necessidades de cada cliente cujos olhares ávidos eram atraídos por alguma novidade exposta nas galerias por onde também vagavam estudantes se imaginando adultos naquele cenário que tocava suas almas e incendiava hormônios adolescentes.

 

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