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Cacique de Ramos:  Patrimônio Imaterial e seu Centro de Memória

Publicado em: 16-04-2025

O Cacique de Ramos, famosa agremiação carnavalesca da cidade do Rio de Janeiro, inaugura, a partir de abril de 2025, seu Centro de Memória, oportuna iniciativa principalmente após ser declarado Patrimônio Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, publicado no Diário Oficial em 07 de novembro de 2024.

            Importante registrar que, mesmo conhecido como bloco de carnaval, foi fundado no dia 20 de janeiro de 1961 como Grêmio Recreativo, título que ainda mantém em seu conhecido emblema presente nas fantasias que sempre se referem a trajes indígenas em suas cores, preto, branco e vermelho.

Suas origens estão associadas às festividades carnavalescas presentes no bairro de Ramos, subúrbio da Leopoldina, principalmente concentradas na antiga Rua das Missões, logradouro depois denominado Rua Nossa Senhora das Graças. A tradição do carnaval nesta rua perduraria por décadas seguintes, inclusive abrigando desfiles da Imperatriz Leopoldinense, com a quadra localizada em rua próxima, “do outro lado da linha férrea”, a 200 metros de onde morei por mais de meio século.

            Os bailes populares, depois oficializados pela municipalidade, atraíam foliões dos bairros vizinhos como Bonsucesso, Olaria, Penha. Alguns jovens de antigas turmas de esquina se organizavam em pequenos blocos, brincando até a Rua das Missões, desde o final da década de 1950.

             A tradição indica que, em 1961, alguns deles decidiram se juntar, criando um bloco único. Ali estavam os nomes fundadores do Cacique: os irmãos Ubirajara e Ubirany do Nascimento, Aymoré do Espírito Santo e Walter de Oliveira. Aquelas três turmas se uniram e o dia 20 de janeiro tornou-se o marco da fundação, escolhendo São Sebastião como padroeiro e o nome oficial: Grêmio Recreativo Cacique de Ramos. Existe ainda uma versão, relatada por antigos participantes, sobre uma denominação anterior, Cacique Boa Boca, que pouco tempo durou.

            O grupo apresentava outra característica comum, relacionada à religiosidade de matriz africana, o que certamente influenciou o trabalho de seus integrantes, na musicalidade, criação de novos instrumentos, nas letras dos sambas e até mesmo no símbolo. A figura do Cacique pode ser associada a manifestações da Umbanda, como a gira dos Caboclos, que representam os espíritos dos povos originários, ou ao padroeiro São Sebastião, sincretizado com Oxóssi, caçador e protetor das matas.

            Outras versões atribuem a escolha do “Cacique” aos nomes indígenas de alguns fundadores, ou até mesmo à associação de força e resistência daquele símbolo no imaginário popular, presente em diversos filmes americanos assistidos nas matinês dos cinemas suburbanos. Ainda não havia um maior conhecimento dos povos indígenas brasileiros, que sugerisse uma imagem de representação nacional.

            Os primeiros desfiles aconteceram pelo bairro, incluindo a famosa rua das Missões, recebendo adesão gradativa de muitos jovens da região. Seus fundadores perceberam uma oportunidade para reunir aquele grupo e outros interessados ao longo do ano, promovendo festas, rodas de samba, arrecadando fundos para a continuidade do bloco, criando um ambiente de lazer além dos dias de carnaval, um grêmio recreativo.

            Em 1963, seus organizadores decidiram desfilar na Avenida Rio Branco, então coração do Carnaval de Rua, onde reinava outro bloco, que se tornaria seu eterno rival, promovendo históricas (e por vezes violentas) disputas: o Bafo da Onça, originário do Catumbi.

            No ano seguinte, o compositor Agildo Mendes criaria um dos maiores sucessos do Carnaval. O samba “Água na Boca”, lançado nos ensaios do Cacique, consagrou-se em 1965, ano do Quarto Centenário da Cidade do Rio, quando a agremiação desfilou com cerca de 3.000 componentes, trajando sua tradicional fantasia de “índios”, como era denominada.

Desfile do Cacique de Ramos, anos 1960. Acervo Particular

Até 1967, sem contar com sede própria, o pessoal do Cacique participava de bailes, festas e concursos por muitos clubes da Zona da Leopoldina, como o GREIP, no IAPI da Penha, o Cova da Onça, em Brás de Pina, o Clube 30 de Maio, na Penha, o Grêmio Social Paranhos, em Olaria. Entre 1967 e 1972, sob a direção de Ubirajara Félix do Nascimento, o futuro Bira Presidente, o Cacique ocupou uma sede na rua Tenente Pimentel, transversal à Rua Uranos, para onde se transferiu em 1972. O local era um amplo terreno, no número 1326, próximo à estação de Olaria, onde havia tamarineiras, verdadeiro símbolo da agremiação. Surgia o cenário que traria grandes mudanças para o samba carioca, recebendo nomes que se consagrariam na música popular.

            Da sombra daquelas tamarineiras, da quadra tratada carinhosamente como “Templo Sagrado do Samba Cacique de Ramos”, saiu o grupo Fundo de Quintal, composto por integrantes do bloco, incluindo Bira Presidente. Beth Carvalho, que se tornou assídua frequentadora, participando até mesmo de rodas de samba nas calçadas da Penha, junto ao antigo Sovaco de Cobra, tornou-se madrinha da agremiação por onde passaram Almir Guineto, com seu banjo adaptado com braço de cavaquinho, depois utilizado por Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Sombrinha, Zeca Pagodinho, entre tantos nomes que ainda se reúnem naquele reduto do samba carioca e nacional.

Quadra do Cacique de Ramos Acervo particular

A partir de abril de 2025, parte dessa história será exposta ao público no Centro de Memória na sede da agremiação, documentando a trajetória desta referência do Samba e Patrimônio Imaterial do Estado do Rio de Janeiro.

            Segundo seus organizadores, os visitantes poderão conhecer ou rever o primeiro pandeiro de Bira Presidente, o repique de mão, adaptado por Ubirany, um tantã de Sereno e o famoso banjo de Guineto, também utilizado por Arlindo Cruz.

            Além disso, peças integrantes do Carnaval integram o acervo, com um estandarte e algumas fantasias antigas do Cacique, que alteravam alguns detalhes todos os anos, inspiradas nas criações originais do artista plástico Romeu Vasconcelos

            Segundo os responsáveis, o Centro de Memória ficará aberto aos domingos, antes das rodas de samba, na sede do Cacique de Ramos, à rua Uranos, 1326. É um programa imperdível para amantes do samba de raiz e todos aqueles que querem conhecer as muitas faces da história da nossa cidade.

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