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O edifício do Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro

Publicado em: 13-01-2025

O Diário do Rio, em matéria de Quintino Gomes Freire, registrou a celebração, no dia 13 de janeiro, de mais um aniversário do Museu Nacional de Belas Artes – MNBA.  A Instituição foi criada oficialmente em 1937, pelo Ministro Gustavo Capanema durante o Governo Vargas, instalada nas dependências da Escola Nacional de Belas Artes, com quem compartilhou seus aposentos até meados da década de 1970, quando esta foi transferida para o edifício da Faculdade de Arquitetura da UFRJ, na Cidade Universitária do Rio de Janeiro.

Na prática, houve um caminho institucional inverso, pois, originalmente, o Curso de Arquitetura integrava, desde sua fundação em 12 de agosto de 1816, por D. João VI, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, sem um edifício próprio.

Dez anos depois, em novembro de 1826, durante o reinado de D. Pedro I, o arquiteto Grandjean de Montigny, professor da Escola Real, projetou e acompanhou a construção da Academia Imperial de Belas Artes, destinada exclusivamente para as atividades da Instituição rebatizada pelo Império. Tratava-se de notável representante do neoclassicismo no Brasil, localizado na Travessa das Belas Artes, nas imediações da Praça Tiradentes. Foi demolido durante o mesmo Governo criara o Museu, sob alegação da construção de uma nova sede para o Ministério da Fazenda, empreendimento não executado naquele local, restando um grande terreno na Avenida Passos, que serve para estacionamento rotativo. A portada, um elaborado trabalho de cantaria, foi remontada numa das alamedas do Jardim Botânico, onde pode ser apreciada em sua plenitude.

Na última década do século XIX, logo após a Proclamação da República, a Escola assistiu a uma grande reforma curricular, implantada pelo seu diretor Rodolfo Bernardelli. A antiga Academia Imperial tornava-se Escola Nacional de Belas Artes, procurando equiparar-se às principais instituições afins no mundo ocidental. Bernardelli incluiu novas matérias, organizou exposições dos alunos, adquiriu obras relevantes para o acervo, apresentando-as ao público. Era o embrião do futuro museu.

Com tantas transformações, as dependências da antiga academia, quase centenária, não comportavam o número crescente de alunos nem as novas necessidades curriculares.

Quase ao mesmo tempo, o Prefeito Pereira Passos implantava seu plano de melhoramentos, com participação ativa do diretor da Escola.  Era o momento adequado para pleitear novas instalações.

            O edifício para abrigar a Escola Nacional de Belas Artes republicana foi projetado pelo Professor-arquiteto Morales de los Rios para um dos endereços mais nobres da cidade em transformação: a Avenida Central, junto à Praça Floriano, na vizinhança imediata do Teatro Municipal e a Biblioteca Nacional.

Theatro Municipal e a Escola de Belas Artes, c.1910 Cartão postal

O conjunto tornou-se o mais representativo da Belle Époque construído na cidade, não apenas pela concepção de fachadas, mas também pelo esmero em seus acabamentos internos, que ainda podem ser observados.

Em 1908, inaugurava-se um dos mais importantes representantes do Ecletismo na capital da jovem República. A Escola de Belas Artes é uma edificação de planta quadrangular, com espaços definidos por extensas galerias. A fachada principal, utilizando mais uma vez os referenciais do Ecletismo, estabelecia uma clara alusão à ala do Louvre reformada por Lefuel e Visconti, a partir de 1861, portanto uma referência explícita a um dos maiores centros concentradores da produção artística do mundo, desde o final do século XVIII.  Escolha apropriada para uma instituição responsável pelo ensino das Artes. A arquitetura falante, cuja fachada revelava sua função.

Cartões postais

A obra, trabalho de um experiente profissional, busca uma composição harmoniosa, incluindo referências arquitetônicas de vários períodos, como o renascimento francês, italiano ou o neoclassicismo. Suas fachadas são uma verdadeira enciclopédia de manifestações artísticas, com frontões, cariátides, relevos em terracota representando civilizações da Antiguidade. Inclui ainda pequenos mosaicos e pinturas representativas de artistas nacionais e estrangeiros. Como está implantado em uma quadra, com todas as fachadas sobre o passeio, é possível contornar seu perímetro e observar a coleção de obras de arte.

Fachada Principal – Av. Rio Branco, 199 Acervo BN

Internamente, mantém sua filiação a referências consagradas, com escadarias barrocas, grandes galerias com iluminação zenital, pátios internos e a famosa cúpula central, que os alunos da Arquitetura chamavam de mansarda.

Saguão de entrada do Museu Nacional de Belas Artes – MNBA – inaugurado em 1937 – Cinelândia Local: Rio de Janeiro – RJ Data: 2010 Codigo: 01FK832 Autor: Fabio Knoll

Muitas histórias envolvem aquela cúpula. Foi muito utilizado como ateliê para as aulas de Composições de Arquitetura (depois denominadas projeto). Ex-alunos, depois docentes da Instituição, com quem tive a oportunidade de conviver e aprender sempre, relembravam episódios relacionados às noites de vigília, obrigados pelos professores a entregar os resultados no dia seguinte. As portas ficavam trancadas, impedindo a saída. Cestas desciam da balaustrada para as calçadas. Gentis transeuntes (parentes ou namoradas) as abasteciam de comida e muita, muita bebida para cruzar a madrugada, debruçados sobre as pranchetas, até raiar o dia, com o sol despontando pela janela posterior, na Baía da Guanabara.

Mais tarde, tarefas cumpridas, os estudantes dividiam-se, segundo a simpatia política, pelos bares locais: o Amarelinho e o Vermelhinho, onde ocorreram grandes embates ideológicos.

Muitos daqueles alunos foram responsáveis pelo movimento que, em 1937, separou a Congregação do Curso de Arquitetura de sua matriz, a Escola Nacional de Belas Artes. Em 1945 houve a separação definitiva com a criação da Faculdade Nacional de Arquitetura que, em breve, se mudaria para o edifício na Avenida Pasteur, que abrigara o Hospício Pedro II desde o século XIX.

Surgia o espaço necessário para abrigar o recém-criado Museu Nacional de Belas Artes, que dividiria o edifício até 1976, quando a Escola de Belas Artes foi transferida para o edifício da então Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, na Ilha do Fundão, em funcionamento desde 1961.

Com a transferência, o acervo foi repartido entre Museu, que permaneceu com a maior parte da coleção artística, e a Escola, que recebeu documentos e obras menores, muitas delas sob guarda do Museu D. João VI.

Galeria com iluminação zenital – Acervo MNBA

Em maio de 1973, o edifício localizado na Avenida Rio Branco 199, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN e recebeu tombamento provisório estadual em 2006.

O Museu Nacional de Belas Artes é a mais importante instituição de Arte Brasileira do século XIX, com grande prestígio internacional. Em seus salões foram realizadas notáveis exposições temporárias e abrigam obras grandiosas, como a Primeira Missa no Brasil (2,70 x 3,60m) e Batalha dos Guararapes (5,00 x 9,25m), ambas de Vitor Meireles ou a Batalha do Avaí (6,00 x 11,00m), de Pedro Américo, além de artistas como Visconti, Debret, Bernadelli. Em um de seus pátios foi remontado, no início do século XXI, um monumental painel de azulejos, de 130m², de Djanira, originalmente exposto numa capela no interior do túnel Santa Bárbara, que homenageava a Santa.

No final de 2024, a direção manifestou a expectativa que o Museu seja reaberto inteiramente até o final de 2025, devolvendo ao público em geral, turistas e pesquisadores, a notável edificação que registra um importante momento da história do Rio e um acervo de inestimável valor artístico e cultural.

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